Por iniciativa do valoroso e único parlamentar de quem se pode esperar atitudes, o STF se posicionará através de seu ministro presidente sobre o pedido do Senador Álvaro Dias (PSDB-PR) de que sejam revelados todos os meandros dos empréstimos de financiamento de obras no exterior, em especial em Cuba, Venezuela e Angola. Assim o Sen. Álvaro Dias se pronunciou sobre o caso: "Não se pode admitir que o governo faça empréstimos vultosos sem que aqueles que pagam impostos saibam de informações como o valor dos empréstimos, o prazo de carência para o seu resgate, taxas de juros. Não vejo outro assunto que revolte tanto a população como saber que o governo empresta dinheiro dos brasileiros para a construção de um porto em Cuba, para o metrô de Caracas, para a construção de uma hidrelétrica na Venezuela, entre outras tantas obras em países controlados por ditadores". Eu, até então, desconhecia a extensão dos empréstimos e para que eles serviam nesses países. Sabe-se agora que não foi apenas para se construir o Porto de Mariel, em Cuba, que o nosso suado dinheirinho foi empregado. Enquanto São Paulo e, principalmente, Salvador sofrem com a falta de transporte via metrô, o BNDES financia completamente o metrô de Caracas. Se o ministro Joaquim Barbosa topar a parada – ele teve uma reunião fechada com o Senador tucano, ontem, a esse respeito – a coisa vai feder insuportavelmente para o lado do vigarista de Caetés. Calcula-se que o desvio de dinheiro público por intermédio desses "empréstimos" é tão grande que o Mensalão será completamente esquecido por ter sido apenas um 'roubozinho' sem a "menor importância. Lembrem-se de que os empréstimos foram feitos em moeda estrangeira, dólares, bilhões deles! Se o Brasil tiver a sorte de ter como relator da matéria um Luiz Fux ou um Gilmar Mendes, o PT estará com seus dias contados, pois o roubo é tão grande que ninguém é capaz de avaliar o quanto. Vamos torcer para que seja um desses dois ministros o relator, porque se cair nas mãos de Barroso, Toffoli, Lewandowski ou daquele gaúcho… Bom, melhor esperar pra vermos. O pedido de Álvaro Dias é uma ação direta contra a Presidenta Dilma Rousseff, o ministro Mauro Borges (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Alvaro Dias fez seu pedido ao STF com base na Lei nº 12.527, de 2011, (Lei de Acesso à Informação) que, conforme preceitua seu art. 1º, tem a finalidade de "garantir o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal". dessa ação judicial dependerá o futuro de Rousseff e seu séquito de ladrões, incluído aí o chefão de todos: Lulalarápio da Silva!
Este blog é para mostrar que nunca mais precisamos de Bolsonaro como presidente do Brasil.
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sexta-feira, 27 de junho de 2014
A bomba que o PT não quer que estoure!
Por iniciativa do valoroso e único parlamentar de quem se pode esperar atitudes, o STF se posicionará através de seu ministro presidente sobre o pedido do Senador Álvaro Dias (PSDB-PR) de que sejam revelados todos os meandros dos empréstimos de financiamento de obras no exterior, em especial em Cuba, Venezuela e Angola. Assim o Sen. Álvaro Dias se pronunciou sobre o caso: "Não se pode admitir que o governo faça empréstimos vultosos sem que aqueles que pagam impostos saibam de informações como o valor dos empréstimos, o prazo de carência para o seu resgate, taxas de juros. Não vejo outro assunto que revolte tanto a população como saber que o governo empresta dinheiro dos brasileiros para a construção de um porto em Cuba, para o metrô de Caracas, para a construção de uma hidrelétrica na Venezuela, entre outras tantas obras em países controlados por ditadores". Eu, até então, desconhecia a extensão dos empréstimos e para que eles serviam nesses países. Sabe-se agora que não foi apenas para se construir o Porto de Mariel, em Cuba, que o nosso suado dinheirinho foi empregado. Enquanto São Paulo e, principalmente, Salvador sofrem com a falta de transporte via metrô, o BNDES financia completamente o metrô de Caracas. Se o ministro Joaquim Barbosa topar a parada – ele teve uma reunião fechada com o Senador tucano, ontem, a esse respeito – a coisa vai feder insuportavelmente para o lado do vigarista de Caetés. Calcula-se que o desvio de dinheiro público por intermédio desses "empréstimos" é tão grande que o Mensalão será completamente esquecido por ter sido apenas um 'roubozinho' sem a "menor importância. Lembrem-se de que os empréstimos foram feitos em moeda estrangeira, dólares, bilhões deles! Se o Brasil tiver a sorte de ter como relator da matéria um Luiz Fux ou um Gilmar Mendes, o PT estará com seus dias contados, pois o roubo é tão grande que ninguém é capaz de avaliar o quanto. Vamos torcer para que seja um desses dois ministros o relator, porque se cair nas mãos de Barroso, Toffoli, Lewandowski ou daquele gaúcho… Bom, melhor esperar pra vermos. O pedido de Álvaro Dias é uma ação direta contra a Presidenta Dilma Rousseff, o ministro Mauro Borges (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Alvaro Dias fez seu pedido ao STF com base na Lei nº 12.527, de 2011, (Lei de Acesso à Informação) que, conforme preceitua seu art. 1º, tem a finalidade de "garantir o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal". dessa ação judicial dependerá o futuro de Rousseff e seu séquito de ladrões, incluído aí o chefão de todos: Lulalarápio da Silva!
segunda-feira, 9 de junho de 2014
Um terço do eleitorado não quer PT nem PSDB, diz cientista político
Para o cientista político Fernando Abrucio, o recorde de eleitores sem candidato
a essa altura da disputa –30% que declaram branco, nulo ou indecisão, segundo o
Datafolha– é sinal de um problema da campanha de Eduardo Campos, o pré-candidato
à Presidência do PSB.
Abrucio entende que esse eleitorado está sedento por um nome que não seja nem do
PT nem do PSDB. Mas Campos, segundo sua visão, está sendo incapaz de se colocar
como essa terceira via.
Quase um terço do eleitorado não tem candidato, um recorde. Tem alguma hipótese
para explicar isso?
Há um conjunto grande de eleitores que não quer nem PT nem PSDB. As
manifestações de junho de 2013 mostraram algo que algumas pesquisas qualitativas
já vinham mostrando. Isso voltou. Explica esses 30% de indecisos, brancos e
nulos.
Ficam assim até a eleição?
Difícil dizer. A dúvida é saber se Eduardo Campos vai conseguir pegar esse
eleitor, que eu acho que é próximo de um terço do eleitorado. Teria que aparecer
uma candidatura capaz de liderar esses, digamos, eleitores de terceira via. Mas
por enquanto o Eduardo não conseguiu. E não está construindo um caminho para
conseguir. O candidato do PSOL (Ranfolfe Rodrigues) também não. Não é um nome
muito carismático.
Em eleições passadas havia candidato de terceira via, mas não tinha eleitor.
Agora tem eleitor de terceira via, mas não tem candidato. É isso?
Houve mesmo várias tentativas. Cristovam Buarque, Heloísa Helena, Ciro Gomes. Há
um bipartidarismo presidencial desde 1994. Algo próximo de 60% do eleitorado
acompanha esse bipartidarismo. PT e PSDB, portanto, ainda têm uma legitimidade
que não é pequena. Mas o que vem crescendo são os que não querem nem PT nem
PSDB.
Quais são os desafios para se tornar o nome de terceira via?
Primeiro, discurso. Eduardo e Marina não conseguiram achar. Segundo, vitrines
regionais. Há um grande conflito no PSB entre formar bancada no Congresso ou
marcar posição na eleição presidencial mesmo perdendo cadeiras no Congresso. Não
tem jeito. Se o PSB não lançar candidatos no Rio, em São Paulo e em Minas –nomes
que representem algo diferente de PT e PSDB, mesmo se for para perder–, Eduardo
não terá como fazer discurso de terceira via. Não adianta ir com Geraldo Alckmin
[PSDB, em SP], Pimenta da Veiga [PSDB, MG] e Lindbergh Farias [PT, RJ]. O
eleitor não vai reconhecer a terceira via.
O que mais dá para dizer do eleitorado sem candidato?
É um eleitor esperando candidato. Os 30% podem ser altos, mas a gente não sabe
bem quão alto é. No fim, se não tiver esse nome de terceira via, podem anular,
votar em branco ou nem comparecer. Mas, no limite, uma parte vai para Aécio e
Dilma. Hoje, do jeito que a campanha do Eduardo está, fica difícil votar nele.
Se não tem discurso diferente e anda com os mesmos, por que votar nele?
PT e o PSB estão mantendo fora da eleição seus nomes mais competitivos, Lula e
Marina. Isso também explica?
Com Marina e Lula, claro que teria menos brancos e nulos. Acho mais difícil para
o Lula substituir a Dilma do que para a Marina substituir o Eduardo. Porque a
Dilma é a incumbente, é sua reeleição. Mas não dá para descartar. Se cair abaixo
dos 30% ou se resolver desistir, Lula volta. E ganha, com todo o recall. Já
Marina estaria colada em Aécio na pesquisa. Aí a vida do Aécio estaria bem mais
difícil, com campanha mais agressiva. Ele tem tomado decisões tranquilas nas
últimas semanas por causa disso. Eduardo tem sido o candidato que o Aécio
sonhou.
O Datafolha mostrou que Dilma, Aécio e Campos variaram para baixo. Como avaliar?
Foram duas notícias boas para a oposição e duas ruins. As boas são que a Dilma
já caiu faz tempo daquele piso que ela imaginava ter. O temor agora é que caia
para 30%. A segunda é que embora os eleitores que saem da Dilma não optem
imediatamente pela a oposição, isso pode ocorrer com a propaganda política na
TV. Tem um espaço que pode ser aberto.
E as más para a oposição?
A primeira é que o Lula ainda é um grande eleitor. Os que declaram votar "com
certeza" em alguém apoiado por ele (36%) e os que "talvez" votariam (24%) são
muitos. Então pode recuperar um pouco a Dilma. A segunda, na verdade é pior para
o Eduardo do que para o Aécio, é essa enorme dificuldade para pegar o eleitor de
terceira via.
Por que pior para Campos?
No plano regional, os três estão fazendo a mesma política: buscando TV e
palanques. Isso é razoável para Dilma e Aécio, eles são os nomes do sistema. Já
quem quer sair como candidato de fora do bipartidarismo não pode fazer o mesmo
jogo. É facilitar a via para uma bipolarização.
Qual deveria ser a estratégia de Campos?
A chance dele é chegar próximo do Aécio no fim do primeiro turno e então pegar
um voto útil. Já vi pesquisas que, de fato, mostram isso. E a oposição comemora.
Mas só tem um detalhe: ele precisa chegar próximo do Aécio. Se não chegar, não
tem voto útil. A Marina pode parecer sonhática, distante da "realpolitik", mas
nisso ela fez um diagnóstico correto. Diz que no Rio, em São Paulo e em Minas é
preciso ter candidatos que demarquem diferença com PT e PSDB.
E as dificuldades do Aécio?
Seus problemas têm a ver com o PSDB. Nordeste é uma situação desgraçada, um
eleitorado muito grande, mas em alguns lugares eles não têm nada. Nem como ir.
Tem também uma novidade, o pastor do PSC (Everaldo Pereira), que vai pegar um
voto mais de direita que poderia ir para o PSDB. Antes, esse eleitor não tinha
candidato e ia de PSDB. Agora pode ir para o pastor e ele ser um fenômeno como o
Enéas em 1994 [que acabou em terceiro lugar].
A vida do próximo presidente será mais difícil?
Assumirá com boa parte da população descontente com o sistema político. Isso não
aconteceu com FHC, Lula e Dilma. O próximo presidente, para construir
legitimidade, vai ter de trabalhar mais que os anteriores. Num contexto em que
precisará fazer um ajuste nas contas do Estado.
O que explica esse mau humor geral? É justificado?
Acho que há uma dissonância entre a melhoria da sociedade brasileira e a
melhoria do sistema político. Um paradoxo. Sem dúvida, foram PT e PSDB que
melhoraram o país. Mas eles não foram capazes de melhorar o sistema político na
mesma medida. Então o sucesso agora gera essa pressão. Outra coisa: Lula é uma
liderança muito importante, mas o PT precisa ter outras lideranças. O PSDB
também. Não pode ter só dois candidatos eternamente em todas as eleições de São
Paulo. Não pode ficar sem nome no Rio. Renovar.
Outra pesquisa recente mostrou que cresce o apoio à não obrigatoriedade do voto.
Sou contra o voto facultativo. Acho que a gente ainda tem de conquistar uma
série de avanços antes. Há dois exemplos muito citados na ciência política
mundial. Nos EUA, quem não vota é pobre, negro e latino. E regras vão sendo
criadas para que votem cada vez menos.
O Brasil ainda tem uma desigualdade muito grande, e isso pode ser um perigo. O
outro caso é na União Europeia, a maioria com voto facultativo. Estão produzindo
excrescências políticas muito grandes. Assusta olhar o caso francês. Quero ver
se na próxima eleição os franceses irão optar por passar seu dia de voto na
praia, e aí a família Le Pen vai para o segundo turno.
E o princípio do voto facultativo?
Temos que discutir qual é a ideia de cidadania e voto. Senão pode cair num
princípio completamente individualista. A defesa absoluta do voto facultativo é
acreditar que o cidadão é um mero consumidor, e a política é um conjunto de
prateleiras no mercado. Eu não acredito nisso.
Como tem visto a onda de protestos que vem desde 2013?
Greves dos sindicatos são naturais. Aproveitar a véspera de Copa e ganhar um
dinheirinho, né? (Risos.) Deve ter mais em setembro, véspera da eleição.
Novidade é o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto). Esses impressionam.
Estão conseguindo rediscutir a política do Minha Casa, Minha Vida, chamando a
atenção. Podem conquistar espaço real na política de habitação do PT, que atua
numa área que nunca teve organização social.
E o Movimento Passe Livre?
O MPL conseguiu baixar as tarifas do transporte, grande vitória, sem dúvida. Mas
é mais difuso. Em transporte não tem como controlar o grupo de beneficiários.
Então para eles é bem mais difícil fazer um debate sobre transporte para além da
redução da tarifa. Não têm como mobilizar. Tanto que a ideia de tarifa zero não
andou. Pressionaram o sistema político, mas não vão muito mais longe. E
ideologia sem partido tem validade curta. O MTST é bem mais pragmático: organiza
quem não tem casa.
Ricardo Mendonça
Folha de S. Paulo
Editado por Folha Política
Fonte: http://www.folhapolitica.org/2014/06/um-terco-do-eleitorado-nao-quer-pt-nem.html
a essa altura da disputa –30% que declaram branco, nulo ou indecisão, segundo o
Datafolha– é sinal de um problema da campanha de Eduardo Campos, o pré-candidato
à Presidência do PSB.
Abrucio entende que esse eleitorado está sedento por um nome que não seja nem do
PT nem do PSDB. Mas Campos, segundo sua visão, está sendo incapaz de se colocar
como essa terceira via.
Quase um terço do eleitorado não tem candidato, um recorde. Tem alguma hipótese
para explicar isso?
Há um conjunto grande de eleitores que não quer nem PT nem PSDB. As
manifestações de junho de 2013 mostraram algo que algumas pesquisas qualitativas
já vinham mostrando. Isso voltou. Explica esses 30% de indecisos, brancos e
nulos.
Ficam assim até a eleição?
Difícil dizer. A dúvida é saber se Eduardo Campos vai conseguir pegar esse
eleitor, que eu acho que é próximo de um terço do eleitorado. Teria que aparecer
uma candidatura capaz de liderar esses, digamos, eleitores de terceira via. Mas
por enquanto o Eduardo não conseguiu. E não está construindo um caminho para
conseguir. O candidato do PSOL (Ranfolfe Rodrigues) também não. Não é um nome
muito carismático.
Em eleições passadas havia candidato de terceira via, mas não tinha eleitor.
Agora tem eleitor de terceira via, mas não tem candidato. É isso?
Houve mesmo várias tentativas. Cristovam Buarque, Heloísa Helena, Ciro Gomes. Há
um bipartidarismo presidencial desde 1994. Algo próximo de 60% do eleitorado
acompanha esse bipartidarismo. PT e PSDB, portanto, ainda têm uma legitimidade
que não é pequena. Mas o que vem crescendo são os que não querem nem PT nem
PSDB.
Quais são os desafios para se tornar o nome de terceira via?
Primeiro, discurso. Eduardo e Marina não conseguiram achar. Segundo, vitrines
regionais. Há um grande conflito no PSB entre formar bancada no Congresso ou
marcar posição na eleição presidencial mesmo perdendo cadeiras no Congresso. Não
tem jeito. Se o PSB não lançar candidatos no Rio, em São Paulo e em Minas –nomes
que representem algo diferente de PT e PSDB, mesmo se for para perder–, Eduardo
não terá como fazer discurso de terceira via. Não adianta ir com Geraldo Alckmin
[PSDB, em SP], Pimenta da Veiga [PSDB, MG] e Lindbergh Farias [PT, RJ]. O
eleitor não vai reconhecer a terceira via.
O que mais dá para dizer do eleitorado sem candidato?
É um eleitor esperando candidato. Os 30% podem ser altos, mas a gente não sabe
bem quão alto é. No fim, se não tiver esse nome de terceira via, podem anular,
votar em branco ou nem comparecer. Mas, no limite, uma parte vai para Aécio e
Dilma. Hoje, do jeito que a campanha do Eduardo está, fica difícil votar nele.
Se não tem discurso diferente e anda com os mesmos, por que votar nele?
PT e o PSB estão mantendo fora da eleição seus nomes mais competitivos, Lula e
Marina. Isso também explica?
Com Marina e Lula, claro que teria menos brancos e nulos. Acho mais difícil para
o Lula substituir a Dilma do que para a Marina substituir o Eduardo. Porque a
Dilma é a incumbente, é sua reeleição. Mas não dá para descartar. Se cair abaixo
dos 30% ou se resolver desistir, Lula volta. E ganha, com todo o recall. Já
Marina estaria colada em Aécio na pesquisa. Aí a vida do Aécio estaria bem mais
difícil, com campanha mais agressiva. Ele tem tomado decisões tranquilas nas
últimas semanas por causa disso. Eduardo tem sido o candidato que o Aécio
sonhou.
O Datafolha mostrou que Dilma, Aécio e Campos variaram para baixo. Como avaliar?
Foram duas notícias boas para a oposição e duas ruins. As boas são que a Dilma
já caiu faz tempo daquele piso que ela imaginava ter. O temor agora é que caia
para 30%. A segunda é que embora os eleitores que saem da Dilma não optem
imediatamente pela a oposição, isso pode ocorrer com a propaganda política na
TV. Tem um espaço que pode ser aberto.
E as más para a oposição?
A primeira é que o Lula ainda é um grande eleitor. Os que declaram votar "com
certeza" em alguém apoiado por ele (36%) e os que "talvez" votariam (24%) são
muitos. Então pode recuperar um pouco a Dilma. A segunda, na verdade é pior para
o Eduardo do que para o Aécio, é essa enorme dificuldade para pegar o eleitor de
terceira via.
Por que pior para Campos?
No plano regional, os três estão fazendo a mesma política: buscando TV e
palanques. Isso é razoável para Dilma e Aécio, eles são os nomes do sistema. Já
quem quer sair como candidato de fora do bipartidarismo não pode fazer o mesmo
jogo. É facilitar a via para uma bipolarização.
Qual deveria ser a estratégia de Campos?
A chance dele é chegar próximo do Aécio no fim do primeiro turno e então pegar
um voto útil. Já vi pesquisas que, de fato, mostram isso. E a oposição comemora.
Mas só tem um detalhe: ele precisa chegar próximo do Aécio. Se não chegar, não
tem voto útil. A Marina pode parecer sonhática, distante da "realpolitik", mas
nisso ela fez um diagnóstico correto. Diz que no Rio, em São Paulo e em Minas é
preciso ter candidatos que demarquem diferença com PT e PSDB.
E as dificuldades do Aécio?
Seus problemas têm a ver com o PSDB. Nordeste é uma situação desgraçada, um
eleitorado muito grande, mas em alguns lugares eles não têm nada. Nem como ir.
Tem também uma novidade, o pastor do PSC (Everaldo Pereira), que vai pegar um
voto mais de direita que poderia ir para o PSDB. Antes, esse eleitor não tinha
candidato e ia de PSDB. Agora pode ir para o pastor e ele ser um fenômeno como o
Enéas em 1994 [que acabou em terceiro lugar].
A vida do próximo presidente será mais difícil?
Assumirá com boa parte da população descontente com o sistema político. Isso não
aconteceu com FHC, Lula e Dilma. O próximo presidente, para construir
legitimidade, vai ter de trabalhar mais que os anteriores. Num contexto em que
precisará fazer um ajuste nas contas do Estado.
O que explica esse mau humor geral? É justificado?
Acho que há uma dissonância entre a melhoria da sociedade brasileira e a
melhoria do sistema político. Um paradoxo. Sem dúvida, foram PT e PSDB que
melhoraram o país. Mas eles não foram capazes de melhorar o sistema político na
mesma medida. Então o sucesso agora gera essa pressão. Outra coisa: Lula é uma
liderança muito importante, mas o PT precisa ter outras lideranças. O PSDB
também. Não pode ter só dois candidatos eternamente em todas as eleições de São
Paulo. Não pode ficar sem nome no Rio. Renovar.
Outra pesquisa recente mostrou que cresce o apoio à não obrigatoriedade do voto.
Sou contra o voto facultativo. Acho que a gente ainda tem de conquistar uma
série de avanços antes. Há dois exemplos muito citados na ciência política
mundial. Nos EUA, quem não vota é pobre, negro e latino. E regras vão sendo
criadas para que votem cada vez menos.
O Brasil ainda tem uma desigualdade muito grande, e isso pode ser um perigo. O
outro caso é na União Europeia, a maioria com voto facultativo. Estão produzindo
excrescências políticas muito grandes. Assusta olhar o caso francês. Quero ver
se na próxima eleição os franceses irão optar por passar seu dia de voto na
praia, e aí a família Le Pen vai para o segundo turno.
E o princípio do voto facultativo?
Temos que discutir qual é a ideia de cidadania e voto. Senão pode cair num
princípio completamente individualista. A defesa absoluta do voto facultativo é
acreditar que o cidadão é um mero consumidor, e a política é um conjunto de
prateleiras no mercado. Eu não acredito nisso.
Como tem visto a onda de protestos que vem desde 2013?
Greves dos sindicatos são naturais. Aproveitar a véspera de Copa e ganhar um
dinheirinho, né? (Risos.) Deve ter mais em setembro, véspera da eleição.
Novidade é o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto). Esses impressionam.
Estão conseguindo rediscutir a política do Minha Casa, Minha Vida, chamando a
atenção. Podem conquistar espaço real na política de habitação do PT, que atua
numa área que nunca teve organização social.
E o Movimento Passe Livre?
O MPL conseguiu baixar as tarifas do transporte, grande vitória, sem dúvida. Mas
é mais difuso. Em transporte não tem como controlar o grupo de beneficiários.
Então para eles é bem mais difícil fazer um debate sobre transporte para além da
redução da tarifa. Não têm como mobilizar. Tanto que a ideia de tarifa zero não
andou. Pressionaram o sistema político, mas não vão muito mais longe. E
ideologia sem partido tem validade curta. O MTST é bem mais pragmático: organiza
quem não tem casa.
Ricardo Mendonça
Folha de S. Paulo
Editado por Folha Política
Fonte: http://www.folhapolitica.org/2014/06/um-terco-do-eleitorado-nao-quer-pt-nem.html
terça-feira, 3 de junho de 2014
Lula diz, com todas as letras: marco regulatório da mídia é urgente
2/6/2014 13:39
Por Redação - de São Paulo
Ex-presidente da República e um dos principais líderes políticos do país, o petista Luiz Inácio Lula da Silva, aos 68 anos, mostra que está mais disposto do que nunca a eleger a presidenta Dilma Rousseff para mais um mandato e, se houver chances, ainda espera voltar em 2018. Em uma longa entrevista à revista Carta Capital, sem medo de represálias, Lula diz, com todas as letras, que o governo não sabe se comunicar e torna-se necessário, o quanto antes, o estabelecimento de um marco regulatório da mídia. O ex-presidente também descarta a tese de que a Copa do Mundo possa ser relacionada, de alguma forma, com as próximas eleições.
– Difícil imaginar que a Copa do Mundo possa ter qualquer efeito sobre a preferência por este ou aquele candidato. Por outro lado, se o Brasil perder, acho que teremos um desastre similar àquele de 1950. Temo uma frustração tremenda, e a gente não sabe com que resultado psicológico para o povo. Em 50 jogaram o fracasso nas costas do goleiro Barbosa. O Barbosa carregou por 50 anos a responsabilidade, e morreu muito pobre, com a fama de ter sido quem derrotou o Brasil. É uma vergonha jogar a culpa num jogador. Se o Brasil ganha, a campanha passa a debater o futuro do País e o futebol vai ficar para especialistas como eu – brincou.
Quanto às manifestações de rua, Lula ressalta que "ainda há pouco tempo a gente não esperava que pudessem acontecer manifestações. E elas aconteceram sem qualquer radicalização inicial, porque as pessoas reivindicavam saúde padrão Fifa, educação padrão Fifa; poderiam ter reivindicado saúde padrão Interlagos, quando há corrida, ou padrão de tênis, Wimbledon, na hora do tênis".
– Eu acho que isso é até saudável, o povo elevou seu padrão reivindicatório. E é plenamente aceitável dentro do processo de consolidação democrático que vive o Brasil. Eu acho que, ao realizar a Copa, o governo assumiu o compromisso de garantir o bem-estar e a segurança dos brasileiros e dos torcedores estrangeiros. Quem quiser fazer passeata que faça, quem quiser levantar faixa, que levante, mas é importante saber que, assim como alguém tem o direito de protestar, o cidadão que comprou o ingresso e quer ir ver a Copa tenha a garantia de assistir aos jogos em perfeita paz – ponderou.
Leia, adiante, os principais trechos da entrevista:
– O povo brasileiro amadureceu e nós entendemos que o resultado da Copa será bem menos importante do que foi em 1950. Mesmo que a seleção perca, não haverá tragédia. Deste ponto de vista. Efeitos sobre as eleições podem ocorrer em função das chamadas manifestações.
– Eu tenho certeza de que a presidenta Dilma e os governos estaduais estão tomando toda a responsabilidade para garantir a ordem. Com isso podemos ficar tranquilos, é questão de honra para o governo brasileiro. O que está em jogo é também a imagem do Brasil no exterior. De qualquer maneira, acho que não vai ter violência, e, se houver será tão marginal a ponto de ser punida pela própria sociedade. Agora se um sindicato quer fazer uma faixa "abaixo não sei o quê, 10% de aumento", é seu direito.
Eu me lembro que disse ao ministro José Eduardo Cardozo, quando começou a se aventar a possibilidade de uma lei contra os mascarados: "Olha, gente, nem brincar com lei contra mascarados porque a primeira coisa que iremos prejudicar vai ser o Carnaval, não os mascarados".
A Constituição e o Código Penal definem claramente o que é ordem e o que é desordem e, portanto, o governo tem mecanismos para evitar qualquer abuso. Recomenda-se senso comum. Nesses dias tentaram até confundir uma frase minha sobre uma linha de metrô até os estádios. Em 1950, no Maracanã cabiam 200 mil pessoas, mais de duas vezes as assistências atuais. É verdade, havia menos carros nas ruas, infinitamente menos carros, mas também não havia metrô.
– De todo modo, vale a pena realizar uma Copa?
– Discordo daqueles que defendem a Copa no Brasil dizendo que vão entrar R$ 30 bilhões, ou que geraremos novos empregos. O problema não é econômico. A Copa do Mundo vai nos permitir, no maior evento de futebol do mundo, mostrar a cara do Brasil do jeito que ele é. O encontro de civilizações, o resultado dessa miscigenação extraordinária entre europeus, negros e índios que criou o povo brasileiro. Qual é o maior patrimônio que temos para mostrar? A nossa gente.
– Em que medida essas manifestações nascem do fato de que houve uma ascensão econômica? Aqueles que melhoraram de vida reivindicam mais saúde, mais educação.
– Não há apenas uma explicação para o que está acontecendo. Precisamos aprender a falar com o povo, para que entenda o momento histórico.
O jovem hoje com 18 anos tinha 6 anos quando ganhei a primeira eleição, 14 anos quando deixei de ser presidente da República. Se ele tentar se informar pela televisão, ele é analfabeto político. Se tentar se informar pela imprensa escrita, com raríssimas exceções, ele também será um analfabeto político. A tentativa midiática é mostrar tudo pelo negativo.
Agora, se nós tivermos a capacidade de dizer que certamente o pai dele viveu num mundo pior do que o dele, e se começarmos a mostrar como a mudança se deu, tenho certeza de que ele vai compreender que ainda falta muito, mas que em 12 anos, passos adiante foram dados.
– O governo não soube se comunicar?
– Eu acho. Eu de vez em quando gosto de falar de problema histórico, para a gente entender o que de fato aconteceu neste país. Já disse e repito: Cristóvão Colombo chegou em Santo Domingo, em 1492, e em 1507 ali surgia a primeira faculdade. No Peru, em 1550, na Bolívia, em 1624. O Brasil ganhou a primeira faculdade com dom João VI, mas a primeira universidade somente em 1930. Então você compreende o nosso atraso. Qual é o nosso orgulho? Primeiro, em 100 anos, o Brasil conseguiu chegar a 3 milhões de estudantes em universidades. Nós, em 12 anos, vamos chegar a 7,5 milhões de estudantes, ou seja, em 12 anos, nós colocamos mais jovens na universidade do que foi conseguido em um século. Escolas técnicas. De 1909 até 2002, foram inauguradas 140. Em 12 anos, nós inauguramos 365. Ou seja, duas vezes e meia o número alcançado em um século.
E daí você consegue imaginar o que significa o Reuni ao elevar o número de alunos por sala de aula, de 12 para 18. Ou o que significa o Ciências Sem fronteiras, o Fies: 18 universidades federais novas. Pergunta o que o Fernando Henrique Cardoso fez? Se você pensar em 146 campi novos, chegará à conclusão de que foi preciso um sem diploma na Presidência da República para colocar a educação como prioridade neste país. Nós triplicamos o Orçamento da União para a educação. É pouco? É tão pouco que a presidenta Dilma já aprovou a lei permitindo 75% dos royalties para a educação. É tão pouco que a Dilma criou o Ciência Sem Fronteiras para levar 65 mil jovens a estudar no exterior. É tão pouco que ela criou o Pronatec, que já tem 6 milhões de jovens se preparando para exercer uma profissão. Isso tudo estimula essa juventude a querer mais.
Tem de querer mais. Quanto mais ela reivindicar, mais a gente se sente na obrigação de fazer. Quem comia acém passou a comer contrafilé e agora quer filé. E é bom que seja assim, é bom que as pessoas não se nivelem por baixo. Eu sempre fui contra a teoria de que é melhor pingar do que secar. Quanto mais o povo for exigente e reivindicar, forçará o governo a fazer mais. O que é ruim? A hipocrisia. Nós temos um setor médio da sociedade, que ficou esmagado entre as conquistas sociais da parte mais pobre da população e os ricos, que ganharam dinheiro também. A classe média, em vários setores, proporcionalmente ganhou menos. Toda vez que um pobre ascende um degrau, quem está dez degraus acima acha que perdeu algumas coisas. A Marilena Chauí tem uma tese que eu acho correta: um setor da classe média brasileira que às vezes também é progressista, do ponto de vista social, mas não aprendeu a socializar os espaços públicos e então fica incomodado.
– Nós entendemos que o problema é representado pela elite brasileira. Quem se empenha contra a igualdade?
– Eu sou o mais crítico do comportamento da elite brasileira ao longo da história. Este país foi o último a acabar com a escravidão, foi o último a ser independente. Só foi ter voto da mulher na Constituição de 34. Tudo por aqui resulta de um acordo, inclusive um acordo contra a ascensão social. Na Guerra dos Guararapes, quando pretos e índios quiseram participar, a elite disse "não, não vai entrar, porque depois que terminar essa guerra vão querer se voltar contra nós".
– Permita-nos insistir: como vencer as resistências da elite, atiçada pela mídia?
– No movimento sindical, em 1969, comecei a negociar com a Fiesp, certamente a elite era muito mais retrógrada do que hoje. Eu lembro quando nós constituímos a primeira grande comissão de fábrica na Volkswagen nos anos 80, nós fomos pedir a Antônio Ermírio de Moraes a criação de uma comissão de fábricas na sua indústria química de São Miguel Paulista, e significava trabalhador querendo mandar na empresa dele. Hoje tem uma classe empresarial, mais jovem, que já compreende a importância da negociação coletiva. Mesmo assim, permanecem setores retrógrados. Ainda temos coronel que mata gente por este Brasil afora por briga de terra. Nesses dias a Nissan americana não queria deixar seu pessoal sindicalizar-se por lá mesmo e eu tive de mandar uma carta para o presidente da empresa. Mas voltemos à mídia.
– A mídia nutre essa elite.
– Eu certamente não sou especialista nesta questão da mídia e nunca tive muita simpatia dos seus donos. Toda vez que tentei conversar com eles, cuidei de explicar que ao governo não interessa uma mídia chapa-branca, como foram no governo Fernando Henrique Cardoso. Eu não quero isso, não quero que tratem o PT como trataram a turma do Collor nos dois primeiros anos do seu mandato. Agora, também é inaceitável a falta de respeito com Dilma. Se querem falar mal, façam-no no editorial do jornal. Na hora da cobertura do fato, publiquem o fato como ele é. Nunca liguei para o dono de mídia pedindo para fazer essa ou aquela matéria, mas o respeito há de ter, tanto mais por parte da comunicação, que é concessão do Estado. Respeito à instituição, e acho que eles saíram de um momento em que lambiam as botas da ditadura e evoluíram para o pensamento único a favor de FHC, e contra o meu governo e contra o da Dilma, e contra a presidenta com agressividade ainda maior.
– E em termos de informação?
– Quando eu cito os números da educação, por exemplo, é porque nunca foram divulgados por esta mídia. É como se houvesse a obrigação de omitir, sem perceber que com isso se desrespeita o próprio público, que lê, ouve ou assiste. Nem o recente Ibope eles divulgaram. Nem comentaram a inauguração da Rodovia Norte-Sul, que passaram três anos criticando. Há uma predisposição ao negativismo, e isso contribui para uma desinformação da sociedade brasileira. E uma questão é ideológica, se fosse econômica, eles deveriam ir todo dia à igreja acender uma vela para mim, porque muitos estão quebrados e se salvaram no meu governo. Eu estou com a alma tão leve, eu até acho normal o que eles fazem. Vem esse metalúrgico, que a gente supunha destinado a um fracasso total, e é um sucesso. Vem essa mulher aí, que a gente achava um poste, e ela não é um poste. E essa mulher vai se eleger outra vez.
– Insistimos novamente: o governo não se comunica?
– Vocês estão certos, não se comunica, eu tenho falado para o Guido Mantega, para a Dilma: vendo como está o mundo hoje, a cada dois meses o governo tem de fazer igual uma empresa com seus acionistas, que têm fundos de pensão. Ou seja, você tem de fazer viagens e convencer o fundo de que a sua empresa é rentável e vale a pena investir. Então, a cada dois meses o governo brasileiro tem de ir a Nova York, não para falar com aposentados brasileiros, mas com o investidor. Já falei com o Itamaraty, com Bradesco, Santander, todos se dispõem a articular os maiores debates brasileiros para mostrar ao mundo realizações e potencialidades. A Petrobras tem de viajar a cada 30 dias para onde tem investidor. Não podemos ficar por conta de um jornalista inglês que copiou matéria de um jornalista que vive no Rio de Janeiro e fica procurando matéria em jornal para se inspirar. O Brasil precisa reconhecer enquanto vira a sétima economia mundial com viés de ser a quinta, que lá fora já não se fala bem da gente. José Luis Fiori escreveu um artigo comparando Brasil e México para acabar com o complexo de vira-lata de quem fala que o Brasil está pior que o México. O que o México tem melhor que o Brasil? Eu quero que o México fique cada dia mais rico, mas a comparação com o Brasil é inadequada, porque o Brasil é maior que o México em tudo.
Dias atrás, estava aqui com meu amigo Gerdau e perguntei: como está o setor siderúrgico? E ele: não está muito bem. Perguntei: quanto é que você está ganhando no Brasil? Somente aqui, respondeu. Perguntem para o Josué Gomes da Silva, da Coteminas, onde ganha dinheiro? No Brasil. O mercado interno brasileiro é uma bênção de Deus que a elite não sabia existir, eles nunca imaginaram que podíamos ultrapassar os 35 milhões de consumidores.
– Que chances há de mudar essa falha do governo?
– Não é fácil, eu sei o que foram meu primeiro e segundo mandatos. Tenho dito com a Dilma que não tem de dar ouvidos a quem fala que gastamos muito com publicidade. Eu acho que, se foi anunciado um programa hoje, e no segundo dia não houve repercussão, vai em rede nacional. O governo tem de dizer o que a mídia não divulgou, porque se não disser, o silêncio se fecha sobre o fato. Dois dias de tolerância, e coloca um ministro em rede nacional, não precisa ir a presidenta todo dia. Mas não fiquemos nisso. O Marco Regulatório tem de ser compreendido. Não é censura, queremos é fazer valer a Constituição de 88, tanto mais quando entram em cena Facebook e companhia, eu nem sei o nome de tudo. Existe Marco Regulatório de 1962. O Franklin Martins foi feliz ao observar: "Em 62, a gente tinha mais televizinhos do que televisores". Eu lembro que menino ia à casa do vizinho ver televisão, a gente só podia sentar no chão, o sofá era do dono da casa e ele ainda pisava no dedo da gente. Para assistir luta livre, tinha de gastar dinheiro no bar, o dono cobrava. Hoje acontece essa revolução tecnológica e você não quer discutir sua regulamentação? Então, o Marco Regulatório e a reforma política são dois temas de ponta que o PT tem de assumir. Temos de convocar uma Constituinte própria para fazer uma reforma política.
– O que seria esta Constituinte própria?
– Não se destinaria a elaborar uma nova Constituição, e sim discutir a reforma política, exclusivamente. O Congresso tem de aprovar a ideia do plebiscito, e na convocação você diz o que é. E aí, não faltam recursos jurídicos para adotar a nomenclatura adequada. É insuportável governar com o Congresso tomado por tantos partidos. É preciso ter critério para organizar um partido, tem de haver cláusula de barreira.
– E essa história que a imprensa criou do "Volta Lula"?
– O "Volta Lula" começou já na época que eu era presidente, quando pediam o terceiro mandato. Eu, graças a Deus, aprendi a ter responsabilidade muito cedo. E aprendi que, ao aceitar o terceiro mandato, por me achar insubstituível, poderia permitir que outros também achassem, com a possibilidade de alguém, algum dia, tentar o quarto. Não é prudente brincar com a democracia. Cumpri meus dois mandatos, saí cercado pelo carinho do povo. Se, em algum momento, tiver de voltar, posso daqui a 4 anos. Mas não é a minha prioridade. Estarei então com 72 e acho que tem de ser gente mais jovem, com mais vigor físico e capacidade de administração. Mas em política a gente não pode dizer que não, nem sim. Nunca me passou pela cabeça voltar. Em todo caso, minha relação com a Dilma é muito forte, e de muito respeito e admiração pelo caráter dela. Bem formada ideologicamente e muito leal. Nunca iria disputar sua candidatura. Não faltou quem quisesse minha volta, mas quando o Rui Falcão botou em votação, deixei claro: "Quero que saibam, sou candidato a cabo eleitoral da companheira Dilma Rousseff para o segundo mandato à Presidência da República".
– E quanto aos adversários?
– Conheço o Eduardo Campos, é meu amigo, gosto dele profundamente. Conheço o Aécio, ele não tem a mesma firmeza ideológica do Eduardo, tem outro compromisso, é um representante mais afinado com a elite. Mas a Dilma é a mais preparada. Fico triste que não conseguimos construir algo capaz de manter o Eduardo Campos junto da gente. Mas era destino.
– E a Marina?
– Eu gosto muito da Marina, como figura humana. Foi minha companheira no PT por 30 anos, tenho por ela um carinho muito grande, mas acho que, de vez em quando, comete equívocos na análise política dela, meio messiânica. Imaginei-a candidata e agora entra de vice. Nisso não consigo entender a Marina. Mas não confundo relação de amizade com a minha decisão política. Tenho amizade com o Aécio mais formal do que com o Eduardo e sua família.
– Dilma ganha no primeiro turno?
– A ganhar no primeiro turno por 51% a 49% prefiro ganhar no segundo turno, com 65% a 35%. Reeleição é sempre muito difícil, mas no segundo turno você pode consolidar um processo de alianças com a coalisão e você é eleito com mais desenvoltura, e também permite fazer um debate mais profundo. No primeiro turno todo mundo fala a mesma coisa, promete tudo para o povo. Eu acho que a Dilma está tranquila. Se em 2002 a esperança venceu o medo, acho que agora a esperança e a certeza do que pode ser feito pode vencer o ódio.
– Como analisar o avanço na relação dos BRICS?
– Neste mundo globalizado a gente tem de procurar parceiros. Acabou o tempo em que o mundo pobre esperava tudo da Europa e dos Estados Unidos. Então, eu penso que o Brasil tem de fortalecer as suas relações. Eu sou da tese de que a gente tem de criar um colchão de proteção do Brasil em suas relações externas, do ponto de vista estratégico, do ponto de vista da segurança, econômico, do ponto de vista estratégico do desenvolvimento científico-tecnológico. Porque quem já tem não quer repartir com a gente. Por isso o Brasil há de fortalecer cada vez mais sua participação, sobretudo na América do Sul. E ter aqui, na América do Sul, algo muito forte na área do comércio e da interação das nossas empresas. Ter empresas fortes e bancos de desenvolvimento fortes. O BNDES tem de arcar com um papel mais importante e a gente tem de construir o Banco Sul. Acho que temos de fazer o mesmo com a África, porque agora, no século XXI, a África dará um salto de qualidade. E com os BRICS, precisamos tomar decisões políticas.
Nós somos uma espécie de pêndulo do planeta, então não podemos ficar dependendo do dólar para fazer negócio. Temos de construir, e não esperar que o mundo construído no século XIX, no começo do século XX, venha nos salvar. Nós podemos fazer a diferença. Eu acho que esse acordo da Rússia com a China, esse negócio do gás, foi um tapa de pelica na cara da Aliança do Atlântico. Acho que os BRICS devem funcionar como uma espécie de segurrança na relação de cinco economias importantes. Por que eu falo isso? O Mercosul, quando cheguei à Presidência, não valia nada. A Alca é que estava na moda. Nós não implantamos a Alca e o Mercosul passou de 10 bilhões para 49 bilhões de fluxo de comércio exterior. A América do Sul não valia nada, o Brasil não conversava com ninguém, ninguém conversava com o Brasil.
– Não é de interesse da elite que esses dados apareçam.
– O Brasil é o primeiro produtor, e primeiro exportador, de carne processada, suco de laranja, tabaco, o segundo de soja. Tudo que você imaginar, o Brasil está entre os cinco do mundo.
Vamos gostar deste país!
Fonte: http://correiodobrasil.com.br/noticias/politica/lula-diz-com-todas-as-letras-marco-regulatorio-da-midia-e-urgente/707735/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=b20140603
Por Redação - de São Paulo
Ex-presidente da República e um dos principais líderes políticos do país, o petista Luiz Inácio Lula da Silva, aos 68 anos, mostra que está mais disposto do que nunca a eleger a presidenta Dilma Rousseff para mais um mandato e, se houver chances, ainda espera voltar em 2018. Em uma longa entrevista à revista Carta Capital, sem medo de represálias, Lula diz, com todas as letras, que o governo não sabe se comunicar e torna-se necessário, o quanto antes, o estabelecimento de um marco regulatório da mídia. O ex-presidente também descarta a tese de que a Copa do Mundo possa ser relacionada, de alguma forma, com as próximas eleições.
– Difícil imaginar que a Copa do Mundo possa ter qualquer efeito sobre a preferência por este ou aquele candidato. Por outro lado, se o Brasil perder, acho que teremos um desastre similar àquele de 1950. Temo uma frustração tremenda, e a gente não sabe com que resultado psicológico para o povo. Em 50 jogaram o fracasso nas costas do goleiro Barbosa. O Barbosa carregou por 50 anos a responsabilidade, e morreu muito pobre, com a fama de ter sido quem derrotou o Brasil. É uma vergonha jogar a culpa num jogador. Se o Brasil ganha, a campanha passa a debater o futuro do País e o futebol vai ficar para especialistas como eu – brincou.
Quanto às manifestações de rua, Lula ressalta que "ainda há pouco tempo a gente não esperava que pudessem acontecer manifestações. E elas aconteceram sem qualquer radicalização inicial, porque as pessoas reivindicavam saúde padrão Fifa, educação padrão Fifa; poderiam ter reivindicado saúde padrão Interlagos, quando há corrida, ou padrão de tênis, Wimbledon, na hora do tênis".
– Eu acho que isso é até saudável, o povo elevou seu padrão reivindicatório. E é plenamente aceitável dentro do processo de consolidação democrático que vive o Brasil. Eu acho que, ao realizar a Copa, o governo assumiu o compromisso de garantir o bem-estar e a segurança dos brasileiros e dos torcedores estrangeiros. Quem quiser fazer passeata que faça, quem quiser levantar faixa, que levante, mas é importante saber que, assim como alguém tem o direito de protestar, o cidadão que comprou o ingresso e quer ir ver a Copa tenha a garantia de assistir aos jogos em perfeita paz – ponderou.
Leia, adiante, os principais trechos da entrevista:
– O povo brasileiro amadureceu e nós entendemos que o resultado da Copa será bem menos importante do que foi em 1950. Mesmo que a seleção perca, não haverá tragédia. Deste ponto de vista. Efeitos sobre as eleições podem ocorrer em função das chamadas manifestações.
– Eu tenho certeza de que a presidenta Dilma e os governos estaduais estão tomando toda a responsabilidade para garantir a ordem. Com isso podemos ficar tranquilos, é questão de honra para o governo brasileiro. O que está em jogo é também a imagem do Brasil no exterior. De qualquer maneira, acho que não vai ter violência, e, se houver será tão marginal a ponto de ser punida pela própria sociedade. Agora se um sindicato quer fazer uma faixa "abaixo não sei o quê, 10% de aumento", é seu direito.
Eu me lembro que disse ao ministro José Eduardo Cardozo, quando começou a se aventar a possibilidade de uma lei contra os mascarados: "Olha, gente, nem brincar com lei contra mascarados porque a primeira coisa que iremos prejudicar vai ser o Carnaval, não os mascarados".
A Constituição e o Código Penal definem claramente o que é ordem e o que é desordem e, portanto, o governo tem mecanismos para evitar qualquer abuso. Recomenda-se senso comum. Nesses dias tentaram até confundir uma frase minha sobre uma linha de metrô até os estádios. Em 1950, no Maracanã cabiam 200 mil pessoas, mais de duas vezes as assistências atuais. É verdade, havia menos carros nas ruas, infinitamente menos carros, mas também não havia metrô.
– De todo modo, vale a pena realizar uma Copa?
– Discordo daqueles que defendem a Copa no Brasil dizendo que vão entrar R$ 30 bilhões, ou que geraremos novos empregos. O problema não é econômico. A Copa do Mundo vai nos permitir, no maior evento de futebol do mundo, mostrar a cara do Brasil do jeito que ele é. O encontro de civilizações, o resultado dessa miscigenação extraordinária entre europeus, negros e índios que criou o povo brasileiro. Qual é o maior patrimônio que temos para mostrar? A nossa gente.
– Em que medida essas manifestações nascem do fato de que houve uma ascensão econômica? Aqueles que melhoraram de vida reivindicam mais saúde, mais educação.
– Não há apenas uma explicação para o que está acontecendo. Precisamos aprender a falar com o povo, para que entenda o momento histórico.
O jovem hoje com 18 anos tinha 6 anos quando ganhei a primeira eleição, 14 anos quando deixei de ser presidente da República. Se ele tentar se informar pela televisão, ele é analfabeto político. Se tentar se informar pela imprensa escrita, com raríssimas exceções, ele também será um analfabeto político. A tentativa midiática é mostrar tudo pelo negativo.
Agora, se nós tivermos a capacidade de dizer que certamente o pai dele viveu num mundo pior do que o dele, e se começarmos a mostrar como a mudança se deu, tenho certeza de que ele vai compreender que ainda falta muito, mas que em 12 anos, passos adiante foram dados.
– O governo não soube se comunicar?
– Eu acho. Eu de vez em quando gosto de falar de problema histórico, para a gente entender o que de fato aconteceu neste país. Já disse e repito: Cristóvão Colombo chegou em Santo Domingo, em 1492, e em 1507 ali surgia a primeira faculdade. No Peru, em 1550, na Bolívia, em 1624. O Brasil ganhou a primeira faculdade com dom João VI, mas a primeira universidade somente em 1930. Então você compreende o nosso atraso. Qual é o nosso orgulho? Primeiro, em 100 anos, o Brasil conseguiu chegar a 3 milhões de estudantes em universidades. Nós, em 12 anos, vamos chegar a 7,5 milhões de estudantes, ou seja, em 12 anos, nós colocamos mais jovens na universidade do que foi conseguido em um século. Escolas técnicas. De 1909 até 2002, foram inauguradas 140. Em 12 anos, nós inauguramos 365. Ou seja, duas vezes e meia o número alcançado em um século.
E daí você consegue imaginar o que significa o Reuni ao elevar o número de alunos por sala de aula, de 12 para 18. Ou o que significa o Ciências Sem fronteiras, o Fies: 18 universidades federais novas. Pergunta o que o Fernando Henrique Cardoso fez? Se você pensar em 146 campi novos, chegará à conclusão de que foi preciso um sem diploma na Presidência da República para colocar a educação como prioridade neste país. Nós triplicamos o Orçamento da União para a educação. É pouco? É tão pouco que a presidenta Dilma já aprovou a lei permitindo 75% dos royalties para a educação. É tão pouco que a Dilma criou o Ciência Sem Fronteiras para levar 65 mil jovens a estudar no exterior. É tão pouco que ela criou o Pronatec, que já tem 6 milhões de jovens se preparando para exercer uma profissão. Isso tudo estimula essa juventude a querer mais.
Tem de querer mais. Quanto mais ela reivindicar, mais a gente se sente na obrigação de fazer. Quem comia acém passou a comer contrafilé e agora quer filé. E é bom que seja assim, é bom que as pessoas não se nivelem por baixo. Eu sempre fui contra a teoria de que é melhor pingar do que secar. Quanto mais o povo for exigente e reivindicar, forçará o governo a fazer mais. O que é ruim? A hipocrisia. Nós temos um setor médio da sociedade, que ficou esmagado entre as conquistas sociais da parte mais pobre da população e os ricos, que ganharam dinheiro também. A classe média, em vários setores, proporcionalmente ganhou menos. Toda vez que um pobre ascende um degrau, quem está dez degraus acima acha que perdeu algumas coisas. A Marilena Chauí tem uma tese que eu acho correta: um setor da classe média brasileira que às vezes também é progressista, do ponto de vista social, mas não aprendeu a socializar os espaços públicos e então fica incomodado.
– Nós entendemos que o problema é representado pela elite brasileira. Quem se empenha contra a igualdade?
– Eu sou o mais crítico do comportamento da elite brasileira ao longo da história. Este país foi o último a acabar com a escravidão, foi o último a ser independente. Só foi ter voto da mulher na Constituição de 34. Tudo por aqui resulta de um acordo, inclusive um acordo contra a ascensão social. Na Guerra dos Guararapes, quando pretos e índios quiseram participar, a elite disse "não, não vai entrar, porque depois que terminar essa guerra vão querer se voltar contra nós".
– Permita-nos insistir: como vencer as resistências da elite, atiçada pela mídia?
– No movimento sindical, em 1969, comecei a negociar com a Fiesp, certamente a elite era muito mais retrógrada do que hoje. Eu lembro quando nós constituímos a primeira grande comissão de fábrica na Volkswagen nos anos 80, nós fomos pedir a Antônio Ermírio de Moraes a criação de uma comissão de fábricas na sua indústria química de São Miguel Paulista, e significava trabalhador querendo mandar na empresa dele. Hoje tem uma classe empresarial, mais jovem, que já compreende a importância da negociação coletiva. Mesmo assim, permanecem setores retrógrados. Ainda temos coronel que mata gente por este Brasil afora por briga de terra. Nesses dias a Nissan americana não queria deixar seu pessoal sindicalizar-se por lá mesmo e eu tive de mandar uma carta para o presidente da empresa. Mas voltemos à mídia.
– A mídia nutre essa elite.
– Eu certamente não sou especialista nesta questão da mídia e nunca tive muita simpatia dos seus donos. Toda vez que tentei conversar com eles, cuidei de explicar que ao governo não interessa uma mídia chapa-branca, como foram no governo Fernando Henrique Cardoso. Eu não quero isso, não quero que tratem o PT como trataram a turma do Collor nos dois primeiros anos do seu mandato. Agora, também é inaceitável a falta de respeito com Dilma. Se querem falar mal, façam-no no editorial do jornal. Na hora da cobertura do fato, publiquem o fato como ele é. Nunca liguei para o dono de mídia pedindo para fazer essa ou aquela matéria, mas o respeito há de ter, tanto mais por parte da comunicação, que é concessão do Estado. Respeito à instituição, e acho que eles saíram de um momento em que lambiam as botas da ditadura e evoluíram para o pensamento único a favor de FHC, e contra o meu governo e contra o da Dilma, e contra a presidenta com agressividade ainda maior.
– E em termos de informação?
– Quando eu cito os números da educação, por exemplo, é porque nunca foram divulgados por esta mídia. É como se houvesse a obrigação de omitir, sem perceber que com isso se desrespeita o próprio público, que lê, ouve ou assiste. Nem o recente Ibope eles divulgaram. Nem comentaram a inauguração da Rodovia Norte-Sul, que passaram três anos criticando. Há uma predisposição ao negativismo, e isso contribui para uma desinformação da sociedade brasileira. E uma questão é ideológica, se fosse econômica, eles deveriam ir todo dia à igreja acender uma vela para mim, porque muitos estão quebrados e se salvaram no meu governo. Eu estou com a alma tão leve, eu até acho normal o que eles fazem. Vem esse metalúrgico, que a gente supunha destinado a um fracasso total, e é um sucesso. Vem essa mulher aí, que a gente achava um poste, e ela não é um poste. E essa mulher vai se eleger outra vez.
– Insistimos novamente: o governo não se comunica?
– Vocês estão certos, não se comunica, eu tenho falado para o Guido Mantega, para a Dilma: vendo como está o mundo hoje, a cada dois meses o governo tem de fazer igual uma empresa com seus acionistas, que têm fundos de pensão. Ou seja, você tem de fazer viagens e convencer o fundo de que a sua empresa é rentável e vale a pena investir. Então, a cada dois meses o governo brasileiro tem de ir a Nova York, não para falar com aposentados brasileiros, mas com o investidor. Já falei com o Itamaraty, com Bradesco, Santander, todos se dispõem a articular os maiores debates brasileiros para mostrar ao mundo realizações e potencialidades. A Petrobras tem de viajar a cada 30 dias para onde tem investidor. Não podemos ficar por conta de um jornalista inglês que copiou matéria de um jornalista que vive no Rio de Janeiro e fica procurando matéria em jornal para se inspirar. O Brasil precisa reconhecer enquanto vira a sétima economia mundial com viés de ser a quinta, que lá fora já não se fala bem da gente. José Luis Fiori escreveu um artigo comparando Brasil e México para acabar com o complexo de vira-lata de quem fala que o Brasil está pior que o México. O que o México tem melhor que o Brasil? Eu quero que o México fique cada dia mais rico, mas a comparação com o Brasil é inadequada, porque o Brasil é maior que o México em tudo.
Dias atrás, estava aqui com meu amigo Gerdau e perguntei: como está o setor siderúrgico? E ele: não está muito bem. Perguntei: quanto é que você está ganhando no Brasil? Somente aqui, respondeu. Perguntem para o Josué Gomes da Silva, da Coteminas, onde ganha dinheiro? No Brasil. O mercado interno brasileiro é uma bênção de Deus que a elite não sabia existir, eles nunca imaginaram que podíamos ultrapassar os 35 milhões de consumidores.
– Que chances há de mudar essa falha do governo?
– Não é fácil, eu sei o que foram meu primeiro e segundo mandatos. Tenho dito com a Dilma que não tem de dar ouvidos a quem fala que gastamos muito com publicidade. Eu acho que, se foi anunciado um programa hoje, e no segundo dia não houve repercussão, vai em rede nacional. O governo tem de dizer o que a mídia não divulgou, porque se não disser, o silêncio se fecha sobre o fato. Dois dias de tolerância, e coloca um ministro em rede nacional, não precisa ir a presidenta todo dia. Mas não fiquemos nisso. O Marco Regulatório tem de ser compreendido. Não é censura, queremos é fazer valer a Constituição de 88, tanto mais quando entram em cena Facebook e companhia, eu nem sei o nome de tudo. Existe Marco Regulatório de 1962. O Franklin Martins foi feliz ao observar: "Em 62, a gente tinha mais televizinhos do que televisores". Eu lembro que menino ia à casa do vizinho ver televisão, a gente só podia sentar no chão, o sofá era do dono da casa e ele ainda pisava no dedo da gente. Para assistir luta livre, tinha de gastar dinheiro no bar, o dono cobrava. Hoje acontece essa revolução tecnológica e você não quer discutir sua regulamentação? Então, o Marco Regulatório e a reforma política são dois temas de ponta que o PT tem de assumir. Temos de convocar uma Constituinte própria para fazer uma reforma política.
– O que seria esta Constituinte própria?
– Não se destinaria a elaborar uma nova Constituição, e sim discutir a reforma política, exclusivamente. O Congresso tem de aprovar a ideia do plebiscito, e na convocação você diz o que é. E aí, não faltam recursos jurídicos para adotar a nomenclatura adequada. É insuportável governar com o Congresso tomado por tantos partidos. É preciso ter critério para organizar um partido, tem de haver cláusula de barreira.
– E essa história que a imprensa criou do "Volta Lula"?
– O "Volta Lula" começou já na época que eu era presidente, quando pediam o terceiro mandato. Eu, graças a Deus, aprendi a ter responsabilidade muito cedo. E aprendi que, ao aceitar o terceiro mandato, por me achar insubstituível, poderia permitir que outros também achassem, com a possibilidade de alguém, algum dia, tentar o quarto. Não é prudente brincar com a democracia. Cumpri meus dois mandatos, saí cercado pelo carinho do povo. Se, em algum momento, tiver de voltar, posso daqui a 4 anos. Mas não é a minha prioridade. Estarei então com 72 e acho que tem de ser gente mais jovem, com mais vigor físico e capacidade de administração. Mas em política a gente não pode dizer que não, nem sim. Nunca me passou pela cabeça voltar. Em todo caso, minha relação com a Dilma é muito forte, e de muito respeito e admiração pelo caráter dela. Bem formada ideologicamente e muito leal. Nunca iria disputar sua candidatura. Não faltou quem quisesse minha volta, mas quando o Rui Falcão botou em votação, deixei claro: "Quero que saibam, sou candidato a cabo eleitoral da companheira Dilma Rousseff para o segundo mandato à Presidência da República".
– E quanto aos adversários?
– Conheço o Eduardo Campos, é meu amigo, gosto dele profundamente. Conheço o Aécio, ele não tem a mesma firmeza ideológica do Eduardo, tem outro compromisso, é um representante mais afinado com a elite. Mas a Dilma é a mais preparada. Fico triste que não conseguimos construir algo capaz de manter o Eduardo Campos junto da gente. Mas era destino.
– E a Marina?
– Eu gosto muito da Marina, como figura humana. Foi minha companheira no PT por 30 anos, tenho por ela um carinho muito grande, mas acho que, de vez em quando, comete equívocos na análise política dela, meio messiânica. Imaginei-a candidata e agora entra de vice. Nisso não consigo entender a Marina. Mas não confundo relação de amizade com a minha decisão política. Tenho amizade com o Aécio mais formal do que com o Eduardo e sua família.
– Dilma ganha no primeiro turno?
– A ganhar no primeiro turno por 51% a 49% prefiro ganhar no segundo turno, com 65% a 35%. Reeleição é sempre muito difícil, mas no segundo turno você pode consolidar um processo de alianças com a coalisão e você é eleito com mais desenvoltura, e também permite fazer um debate mais profundo. No primeiro turno todo mundo fala a mesma coisa, promete tudo para o povo. Eu acho que a Dilma está tranquila. Se em 2002 a esperança venceu o medo, acho que agora a esperança e a certeza do que pode ser feito pode vencer o ódio.
– Como analisar o avanço na relação dos BRICS?
– Neste mundo globalizado a gente tem de procurar parceiros. Acabou o tempo em que o mundo pobre esperava tudo da Europa e dos Estados Unidos. Então, eu penso que o Brasil tem de fortalecer as suas relações. Eu sou da tese de que a gente tem de criar um colchão de proteção do Brasil em suas relações externas, do ponto de vista estratégico, do ponto de vista da segurança, econômico, do ponto de vista estratégico do desenvolvimento científico-tecnológico. Porque quem já tem não quer repartir com a gente. Por isso o Brasil há de fortalecer cada vez mais sua participação, sobretudo na América do Sul. E ter aqui, na América do Sul, algo muito forte na área do comércio e da interação das nossas empresas. Ter empresas fortes e bancos de desenvolvimento fortes. O BNDES tem de arcar com um papel mais importante e a gente tem de construir o Banco Sul. Acho que temos de fazer o mesmo com a África, porque agora, no século XXI, a África dará um salto de qualidade. E com os BRICS, precisamos tomar decisões políticas.
Nós somos uma espécie de pêndulo do planeta, então não podemos ficar dependendo do dólar para fazer negócio. Temos de construir, e não esperar que o mundo construído no século XIX, no começo do século XX, venha nos salvar. Nós podemos fazer a diferença. Eu acho que esse acordo da Rússia com a China, esse negócio do gás, foi um tapa de pelica na cara da Aliança do Atlântico. Acho que os BRICS devem funcionar como uma espécie de segurrança na relação de cinco economias importantes. Por que eu falo isso? O Mercosul, quando cheguei à Presidência, não valia nada. A Alca é que estava na moda. Nós não implantamos a Alca e o Mercosul passou de 10 bilhões para 49 bilhões de fluxo de comércio exterior. A América do Sul não valia nada, o Brasil não conversava com ninguém, ninguém conversava com o Brasil.
– Não é de interesse da elite que esses dados apareçam.
– O Brasil é o primeiro produtor, e primeiro exportador, de carne processada, suco de laranja, tabaco, o segundo de soja. Tudo que você imaginar, o Brasil está entre os cinco do mundo.
Vamos gostar deste país!
Fonte: http://correiodobrasil.com.br/noticias/politica/lula-diz-com-todas-as-letras-marco-regulatorio-da-midia-e-urgente/707735/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=b20140603
segunda-feira, 2 de junho de 2014
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